Antonio Santos

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Antônio Santos, PhD.

Resgate sua Luz Interior Neste Natal

Uma visão psicológica, filosófica e espiritual do Natal

Quando eu era menino com menos de oito anos de idade, na época de Natal e Ano Novo, me lembro de um mundo encantado onde tudo parecia milagroso. “É dia 24 de dezembro e a noite está chegando. Os raios de sol com suas malhas vermelhas começam a deixar suas últimas impressões de um dia de preparação, um dia de cerrar as portas para o passado e pensar numa nova luz aparecendo. A noite como uma donzela começa devagar a dar seus primeiros passos e aos poucos as estrelas uma a uma começam a iluminar o céu. A lua ainda não apareceu, mas com certeza virá mais tarde participar desta noite encantada. É uma excitação, um movimento e uma música que se pode ouvir nos ouvidos, ver nos olhos, sentir no corpo, nas mãos e nos pés apressados que se preparam para celebrar um mundo maravilhoso de música, oração, dança e comida. O cheiro da comida deliciosa preparada para mais tarde atingem as narinas e o paladar é aguçado num ambiente de alegria e expectativa para a noite que como uma donzela se descortina de maneira maravilhosa.

Agora já mais de idade nos meus oito anos ou mais posso ir à Missa do Galo ver aquilo que só as crianças mais velhas e os adultos tinham o privilégio de ver. Já é quase meia noite, caminhamos pela rua pequena e estreita da nossa cidade encantada chamada Paracatu com uma expectativa sem igual. Cruzamos a pracinha onde andamos de carrinhos de rolimã, para chegar a Matriz onde nos esperam luzes, velas, vozes, imagens, rezas, orações, muita gente, e às vezes um silêncio fascinante. A dança da luz das velas, os sinos da igreja, os cantos de natal e o cheiro de incenso movimentam o ar.

Estar dentro da Matriz é como estar num outro mundo para aquele pequeno menino, um mundo encantado, principalmente quando o silêncio é profundo e nenhuma palavra é falada. De repente o órgão enche todo espaço com sua música, Dona Lourdes está maravilhosa cujos dedos bate nas teclas arrebatando nossos ouvidos com toda força. O coro completa o movimento. Como não entendo muito bem o raciocínio intelectual, as palavras não têm muito significado, mas os sons delas é o que escuto mais frequente, muito mais do que elas significam. De repente tudo se queda silencioso novamente, a música do órgão parece perpetuar no silêncio até que o silêncio é total. É algo fascinante para este menino intrigado com tudo ao seu redor seja a altura do telhado da Matriz, as imagens maravilhosas que brilham intensamente, principalmente de Nossa Senhora, de São José e do Menino Jesus, os castiçais enormes com velas muito grandes, as paredes de adobe fortes e robustas, tudo forma uma orquestra que toca o som da música divina dentro de um coração pequenino. Isto tudo é um prelúdio para um novo nascimento, uma renovação, uma nova vida.”

Penso que com o tempo e com as aventuras do crescimento, com o condicionamento humano pesado, o condicionamento sócio-cultural e religioso, os traumas, a violência, a manipulação e o sofrimento, vamos perdendo aquela criança a que tudo fascina, a que tudo admira, a que tudo interessa, pois intelectualmente ela não sabe muito, mas contém uma sabedoria intocada e virgem. A perda daquela criança que se fascina com as coisas mais simples da vida, que vê o mundo com olhos brilhantes e coloridos, que escuta as águas do regato batendo nas pedras sem muita preocupação, aquela criança ainda inconsciente da dura versão da pobreza humana, tem sido uma das minhas buscas nesta caminhada por este mundo. A perda desta criança milagrosa acontece para todos nós, embora para alguns mais cedos do que outros.

Porque o menino Jesus nos fascina tanto? Ele representa aquela criança maravilhosa que parece termos perdido, mas que na verdade nunca saiu de nossa mente embora esteja embotada dentro das peripécias e os dédalos do caminho humano. Ela representa uma vida melhor e deliciosa que com certeza nos trará algo profundo e significativo na vida. Contudo o que queremos recuperar é a essência daquela criança com os olhos de hoje que se cheios de sabedoria darão uma nova vida adulta àquela criança encantada.

Meus questionamentos nasceram da busca por uma vida melhor, pois nos meus deliciosos momentos de futebol vi tantas pessoas sorrirem completamente felizes que me fez sempre pensar que existe uma saída para o sofrimento. Passei então a estudar estes momentos, pois minha vida sempre gritou dentro de mim um hino de alegria, de amor, e de paz. Agora tenho plena certeza que este hino, nem sempre por mim escutado e, na maioria das vezes, por mim abandonado, se entoa eternamente dentro da mente. Este hino é o hino da criança que perdemos, ou melhor, que abandonamos e que necessita ser resgatada. O Natal é uma oportunidade maravilhosa para este resgate. Este é um dos focos do meu trabalho e da minha vida. Como disse meu grande professor, amigo e companheiro de trabalho Carl Rogers, a vida é um movimento eterno em direção ao crescimento, ao ser e como objetivo último descobrir que realmente somos.

O que é então o Natal? O Natal é a celebração do nascimento de Cristo, do menino Jesus, é a celebração do nascimento da Luz. O presente é um símbolo que nos faz recordar o menino, que nos faz recordar a Luz. Ao recordarmos da nossa criança interior esquecida, nos lembramos do menino Jesus, ao vermos a manjedora com o menino Jesus, nos recordamos da nossa criança e nosso altar interior destruído pela violência do mundo. Com esta linha de pensamento, conseqüentemente, a celebração do Natal toma outro sentido.

Muitas interpretações existem sobre a vida de Jesus, dada por diferentes fontes. Depois de estudar diferentes interpretações e depois de todo meu trabalho com a psicologia, filosofia, meditação, yoga, e o meu trabalho com o silêncio, tenho chegado à conclusão de que Cristo é, na verdade, o nosso Ser Superior, nosso Ser Verdadeiro, a Luz que ilumina toda nossa vida, a paz que nos dá sabedoria e que só através dela podemos encontrar realmente paz, alegria e sabedoria neste mundo. Assim, a celebração do Natal representa o reencontro com o menino Jesus, com o Cristo, com o Ser Verdadeiro que reside dentro de nós.

Esta Luz de Cristo, a nossa paz interior, que guia muitos discípulos de Jesus é a mesma Luz do Buda que guia muitos monjes, e é a mesma Luz de Krishna que guia o guerreiro Arjuna na sua luta para recuperar o Ser Verdadeiro. Há muitos caminhos para se chegar a esta Luz, a esta paz, quando seus princípios são seguidos com sabedoria. A sabedoria que não vê nenhuma diferença seja ela qual for, pois todos são irmãos e irmãs habitando o mesmo planeta com os mesmos sofrimentos bem como as mesmas alegrias. Esta Luz, esta paz interior, que é um raio da Luz de Deus, que é um fio da paz de Deus, não é exclusiva de nenhuma religião, mas representa a espiritualidade profunda a qual podemos chegar através de qualquer religião e de qualquer caminho espiritual.

Podemos dizer que a mente está dividida em três seres (selves) básicos. Um é o Self, o nosso Ser Verdadeiro, o outro é o ego nosso ser ilusório e o terceiro é o Decisor, aquele que decide pelo Self ou pelo ego (Wapnick, 1980). Ramana Marhashi (1920) explica que o Self é a felicidade pura sem sofrer nenhuma influência deste mundo. Já Um Curso Em Milagres ensina que o Self é o Espírito Santo que ilumina todas nossas ações e nos deixa constantemente em estado de graça. Marharshi explica que quando a mente deixa o Self, ela fica miserável e sofre muito estando assim, conseqüentemente no ego. Da mesma maneira, Um Curso Em Milagres explica que quando damos o controle da mente ao ego sofremos e perdemos a alegria e a graça do Espírito Santo.

É importante ter em mente que a todo momento estamos decidindo pelo Self, o Espírito Santo, ou pelo ego, pela paz interior ou pelo sofrimento. Esta decisão é resultado de nossos pensamentos, das emoções que vivemos bem como das nossas ações que sempre nos informam quem escolhemos a determinado momento: o Self ou o ego. Se nos alegramos e estamos em estado de graça é sinal que escolhemos o Self, e se sofremos, machucamos a nós mesmos ou aos outros é sinal que deixamos o ego controlar nossa mente. Esta decisão que tomamos de estar no Self ou no ego é 99% das vezes tomada inconscientemente e é como se estivéssemos numa cangorra com alguém que não é nós mesmos em controle. Precisamos aprender a recuperar o controle do nosso barco mental se queremos navegar em águas serenas e tranquilas da vida e chegar à riqueza que vive no fundo do oceano, isto é, o nosso interior.

Recuperar o controle da nossa mente é também resgatar o sentido real do Natal que está perdido nas celebrações que fazemos, muitas vezes comprando o que não podemos comprar, tomando o que não podemos tomar ou comendo o que não podemos comer. O sentido verdadeiro do Natal está perdido no materialismo puro simples. É importante entender que toda vez que negamos a presença na nossa mente do menino Jesus, que representa nossa criança iluminada, sentimos culpa. Pois ao fazermos isto abandonamos o Self e colocamos o ego em comando de nossa mente. Não existe nada de errado com celebrações, mas quando estas celebrações apagam ou substituem o significado real do Natal, perdemos o presente verdadeiro que só a Luz de Cristo, a Luz de Buda, a Luz de Shiva e a Luz de krishna pode nos dar. O Buda dizia: Comei para saciar a fome e bebei para apagar a sêde. Satisfazei as necessidades da vida corpórea como a abelha que liba o nectar da flôr, mas sem lhe roubar o perfume. (O Evangelho do Buda). As desavenças causadas pelos conflitos das festas engendrado pelo consumo exagerado do álcool e mesmo da comida rouba o perfume do natal. Não deixe isto acontecer e sua vida vai brilhar de maneira maravilhosa neste Natal e Ano Novo.

O Natal é um momento idílico onde podemos resgatar a Luz de Cristo, que é um raio da Luz de Deus. Vamos este ano celebrar juntos um novo Natal, um Natal de todos os povos, de todas as religiões e de todas as orientações espirituais. A Luz de Deus, a paz interna, tem nomes diferentes, mas a experiência da Luz de Deus, da profunda paz interna, é uma só. Não importa se você segue o catoliscismo, o cristianismo, o budismo, o judaismo, islamismo, o espiritismo ou qualquer outra corrente espiritual ou mesmo se não segue nada, a Luz é uma só, a paz interna é uma só. Sócrates, o grande filósofo grego, dentre entre outras idéias e pensamentos ficou conhecido por acreditar que a verdade é absoluta. Mesmo pagando com a vida por sua crença, Sócrates nunca duvidou de sua crença de que a verdade é uma só, de que a Luz é uma só, de que Deus é um só. Vamos celebrar neste Natal esta paz, esta luz, que nos traz uma harmonia profunda que está além deste mundo e que nada aqui pode corromper, enferrujar, comprar ou destruir.

Assim não importe o que acontecer ou o que está acontecendo de ruim, recuse a ser infeliz e a cantar o hino da dor e do sofrimento pelo menos nestes dias de festas. Dê o maior presente que você pode dar a quem está ao seu redor, que é a sua alegria, felicidade, amor, carinho, compaixão, caridade e perdão. Faça como os passarinhos, as árvores e as flores que se alegram com a chuva lavadora e rejuvenescedora que desperta o seio da natureza dormente pela seca. Abra o coração e a mente e cante o hino divino que transborda da abóbada celestial. Seja quem você realmente é sem medo de ser feliz gritando a todos os pulmões a cada momento que puderes: EU TENHO O DIREITO DE SER FELIZ, EU ESTOU CHEIO DE FORÇA E SABEDORIA E A LUZ DE DEUS VIVE EM MIM. AMÉM.

Referências Bibliográficas:
A Course in Miracles (1976). Glen Ellen, CA: Foundation for Inner Peace.

BHAGAVAD GITA, The. Baltimore: Penguin Books, 1962. Translated from the Sanskrit with an introduction by Juan Mascaro. 121 p.; reprinted, 2003, introduction by Simon Brodbeck, xiii + 85 p.

KHARISHNANDA, Yogui. O Evangelho de Buda. São Paulo: Pensamento. Transcrito dos Pitakas, as Escrituras Sagradas do Budismo. Tradução Cinira Riedel de Figueiredo.

MAHARSHI, Sri Ramana. Creation theories and the reality of the world. In: D. Godman (ed.) Be as you are: The teachings of Ramana Maharshi. London: Arkana.

PLATO. VLASTOS, Gregory. (ed.) Modern Studies in Philosophy. New York: Anchor.

Polani, Michael, 1958. Personal Knowledge: towards a post-critical Philosophy. University of Chicago Press.

SANTOS, Antonio M. Miracle Moments: the nature of the human energetic process. Bloomington: IN: I-Universe, 2005.

Antonio Monteiro dos Santos, PhD., MSCP
Brasil-CRP-01-0702- USA-CA-PSY 19989
Clinical, Coaching & Counseling Psychology
Co-Director of The Center for Studies of the Person
Tel.: (061)3257-2452 – (061) 9693-4814

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